terça-feira, 23 de maio de 2017

Música : a alma de Cabo Verde


 A música cabo-verdiana sempre teve um percurso crescente, sempre evoluiu graças à sua produção de qualidade, à sua divulgação através da Comunicação Social e ao seu consumo, tanto dentro como fora do país.




Manuel Tavares
Na visão do escritor Manuel Tavares ,“a formação do homem cabo-verdiano, nascido de uma variedade de gentes, influiu fortemente na edificação da sua forma de ser e de estar e ofertou-lhe uma cultura muito rica em quase todas as suas matrizes identificativas, o que acabou por enformar aquilo que constitui hoje a sua nação, com a música a soar bem alto na sua alma”. É caso para dizer que o cabo-verdiano traz a música nas suas veias, desde a nascença e ela tem-se afirmado como uma das principais manifestações existentes em Cabo Verde.Seguramente que não estamos a referir-nos às músicas tradicionais e isto entra em choque com aquilo que constitui a nossa marca e a nossa identidade.
O trabalho de fundo que as autoridades competentes têm que fazer é o ensino da música cabo-verdiana. Um trabalho que visa formar e informar mais as pessoas sobre a música tradicional e a importância que isso representa para o seu povo, enquanto elemento da identidade cultural. Até porque um povo sem identidade é um povo “despido de valores básicos”.
O que nos permite saber que, à semelhança do ser humano qualquer cultura sofre, consciente ou inconscientemente, transformações, isto é, não é estática. Na visão do sociólogo César Monteiro (2014): Nós somos produtos da globalização, sendo assim não podemos falar da música genuinamente cabo-verdiana. É necessário que deixemos a música funcionar de forma aberta, porque a música é dinâmica e não pode ser fechada. Quer se queira quer não, a música avança.
De maneira que, quer queira quer não, estamos condenados a inovar, a receber influências externas, até porque a música é um espaço aberto ao mundo e sofre naturalmente interferências e mexidas.
Muitos questionam e com alguma razão, que muitos festivais e espectáculos que são organizados em Cabo Verde não privilegiam, muito, as músicas tradicionais (Morna, Coladeira, Mazurka, Contra-Dança) mas sim ritmos musicais como o Zouk, Batida, Funaná, Rap, Reggae, isto é, ritmos mais modernos, quentes e mexidos.
A morna e a coladeira são das músicas que mais deram visibilidade ao país no exterior, com a Cesária Évora, Bana, Tito Paris, mas curiosamente, elas são pouco promovidas em sua própria casa.
São questões que nos remetem a uma certa reflexão e análise para uma posterior tomada de medidas que melhor contribuam para a protecção e valorização da nossa música tradicional. Isso não significa que devemos dar costas aos festivais ou que a realização destes é algo insignificante, porque num país de clima tropical quente como é o caso de Cabo Verde estas actividades têm contribuído para fazer juntar as pessoas, para relaxar, confraternizar, dançar, brincar e conviver ao som das músicas mais agitadas.
A música cabo-verdiana tem sido o elo de ligação entre povos e culturas diferentes. Alias várias vezes já se disse que vários povos passaram a conhecer Cabo Verde a partir da sua música. 
O importante e grande desafio que Cabo Verde tem, actualmente, pela frente é a candidatura da morna a património imaterial da humanidade, mas estamos esperançosos que esta música, que muito deu a Cabo Verde, tem todas as condições para chegar a esse nível e estar em pé de igualdade com as outras músicas. Resta aos organizadores dessa candidatura preparar um excelente conceito para apresentar aos decisores.
Sendo assim, resta-nos acrescentar um bem-haja à música e aos músicos cabo-verdianos, mas sobretudo um bem-haja Cabo Verde, país insular localizado no meio do Oceano Atlântico e que sempre inspirou e tem vindo a inspirar grandes músicos.

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