A música cabo-verdiana sempre teve um
percurso crescente, sempre evoluiu graças à sua produção de qualidade, à sua
divulgação através da Comunicação Social e ao seu consumo, tanto dentro como
fora do país.
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| Manuel Tavares |
Na visão do escritor Manuel Tavares ,“a formação do homem cabo-verdiano,
nascido de uma variedade de gentes, influiu fortemente na edificação da sua
forma de ser e de estar e ofertou-lhe uma cultura muito rica em quase todas as
suas matrizes identificativas, o que acabou por enformar aquilo que constitui
hoje a sua nação, com a música a soar bem alto na sua alma”. É caso para dizer
que o cabo-verdiano traz a música nas suas veias, desde a nascença e ela tem-se
afirmado como uma das principais manifestações existentes em Cabo Verde.Seguramente que não estamos a referir-nos às músicas tradicionais e isto
entra em choque com aquilo que constitui a nossa marca e a nossa identidade.
O trabalho de fundo que as autoridades competentes têm que fazer é o ensino
da música cabo-verdiana. Um trabalho que visa formar e informar mais as pessoas
sobre a música tradicional e a importância que isso representa para o seu povo,
enquanto elemento da identidade cultural. Até porque um povo sem identidade é
um povo “despido de valores básicos”.
O que nos permite saber que, à semelhança do ser humano qualquer cultura
sofre, consciente ou inconscientemente, transformações, isto é, não é estática.
Na visão do sociólogo César Monteiro (2014): Nós somos produtos da
globalização, sendo assim não podemos falar da música genuinamente
cabo-verdiana. É necessário que deixemos a música funcionar de forma aberta,
porque a música é dinâmica e não pode ser fechada. Quer se queira quer não, a
música avança.
De maneira que, quer queira quer não, estamos condenados a inovar, a
receber influências externas, até porque a música é um espaço aberto ao mundo e
sofre naturalmente interferências e mexidas.
Muitos questionam e com alguma razão, que muitos festivais e espectáculos
que são organizados em Cabo Verde não privilegiam, muito, as músicas
tradicionais (Morna, Coladeira, Mazurka, Contra-Dança) mas sim ritmos musicais
como o Zouk, Batida, Funaná, Rap, Reggae, isto é, ritmos mais modernos, quentes
e mexidos.
A morna e a coladeira são das músicas que mais deram visibilidade ao país
no exterior, com a Cesária Évora, Bana, Tito Paris, mas curiosamente, elas são
pouco promovidas em sua própria casa.
São questões que nos remetem a uma certa reflexão e análise para uma
posterior tomada de medidas que melhor contribuam para a protecção e valorização
da nossa música tradicional. Isso não significa que devemos dar costas aos
festivais ou que a realização destes é algo insignificante, porque num país de
clima tropical quente como é o caso de Cabo Verde estas actividades têm
contribuído para fazer juntar as pessoas, para relaxar, confraternizar, dançar,
brincar e conviver ao som das músicas mais agitadas.
A música cabo-verdiana tem sido o elo de ligação entre povos e culturas
diferentes. Alias várias vezes já se disse que vários povos passaram a conhecer
Cabo Verde a partir da sua música.
O importante e grande desafio que Cabo Verde
tem, actualmente, pela frente é a candidatura da morna a património imaterial
da humanidade, mas estamos esperançosos que esta música, que muito deu a Cabo
Verde, tem todas as condições para chegar a esse nível e estar em pé de
igualdade com as outras músicas. Resta aos organizadores dessa candidatura
preparar um excelente conceito para apresentar aos decisores.
Sendo assim, resta-nos acrescentar um bem-haja à música e aos músicos
cabo-verdianos, mas sobretudo um bem-haja Cabo Verde, país insular localizado
no meio do Oceano Atlântico e que sempre inspirou e tem vindo a inspirar
grandes músicos.